30 de nov. de 2012

O Céu Pode Esperar

Desde 1941, a cada seus 35 anos, ou qualquer coisa assim, Hollywood comete o brilhantismo de reeditar uma grande versão da peça de Harry Segal,

O Céu Pode Esperar

Heaven Can Wait

A primeira adaptação a que assisti pela TV, quando garoto, foi


Que Espere o Céu (1941) 

Here Comes Mr. Jordan (original)


O boxeador, Joe Pendleton morre 50 anos antes da hora devido a um erro celeste. Uma segunda chance lhe é dada na vida de um recém-morto milionário.


Diretor: Alexander Hall
Roteiro: Sidney Buchman (roteiro), Seton I. Miller (roteiro)
Elenco: Robert Montgomery, Claude Rains e Evelyn Keyes


Alguns anos depois, o genial Warren Beatty, escreveu, produziu, dirigiu e atuou, ao lado de elenco estelar, numa outra versão ainda melhor do filme ao qual imprimiu sua marca. Muitos acreditam que esse seja de fato a obra original.

O Céu Pode Esperar (1978) 

Heaven Can Wait (original)



Antes do momento certo de sua morte, um astro do Los Angeles Rams prestes a deslanchar na carreira é, acidentalmente, extraído de seu corpo, por um anjo super-ansioso.


Para reparar o erro, os "dirigentes do paraíso" recolocam-no de volta à vida no corpo de um milionário recém-assassinado.

Diretores: Warren Beatty, Buck Henry
Roteiro: Elaine May (roteiro), Warren Beatty (roteiro)
Elenco: Warren Beatty, James Mason e Julie Christie

A última e excelente versão do filme, que ficou a cargo do hilariante Chris Rock no papel principal, tem também no elenco o "oscarizado" Chaz Palminteri. Os nomes dos personagens foram mudados e o roteiro embora ligeiramente diferente tem a mesma trama central dos outros dois filmes.


O Céu Pode Esperar (2001) 

Down to Earth (original)

Depois de morrer antes de seu tempo, um comediante aspirando ao estrelato ganha uma segunda chance na vida ... ao ser reencarnado no corpo de um rico e detestável empresário.


Diretores: Chris Weitz, Paul Weitz
Roteiro Elaine May e Warren Beatty (do roteiro de 1978 de Heaven Can Wait),  Chris Rock, Lance Crouther, Ali LeRoi, Louis C.K.
Elenco: Chris Rock, Regina King and Chazz Palminteri

Sugiro que tente assistir a todas as versões. Não vai se arrepender.





















29 de nov. de 2012

Essências da Culinária - Caldo Claro e Fundo Claro

Essências da Culinária - Caldo Claro e Fundo Claro

Fundos e Caldos têm uma diferença primordial:

Os Fundos são reduções preparadas sem sal para servir de base para várias outras alquimias e podem ser guardados para uso posterior.

Aos Caldos é adicionado o sal e, mesmo sendo usados para outras receitas, são geralmente  preparados para o consumo imediato.

Os Caldos e/ou Fundos Claros são feitos com base de vegetais, em geral o "mirepoix"*, ossos e  carnes não tostados mais temperos. Todos cozidos para formar uma "água com sabor".


Ingredientes:


•        Ossos (frango, vitela ou boi)      4 kg. Pode usar mais de um tipo
•        Carnes (frango, vitela ou boi)    Pode usar mais de um tipo (opcional)
•        mocotó de boi (opcional)

Caso vá usar ossos e carnes (e até mocotó), o peso deve ser 2 kg, no total, para ossos e 2 kg de carnes, perfazendo um total geral de 4 kg de matéria prima animal.

A distribuição dos ossos e das carnes pode ficar a seu gosto. 

Se for usar o mocotó, considere-o como parte da porção de carne. Sugiro que não passe de 500g de mocotó

•        Água                                      6 litros
•        "Mirepoix"*                               0,5 kg.
•        bouquet garni** e ou sachê de especiarias.                         
   
Tempos:

•        Ossos de boi                            8  a 12 horas
•        Ossos de vitela                         6 a 10 horas
•        Ossos de frango                       5 a 8 horas

Os tempos variam dentro desses parâmetros se você fizer um "mix" dos ossos.
      
Faça um caldo de cozimento lento com todos os ingredientes refogando as carnes sem tostar. Separe.

Nesse ponto, se não for usar a mesma panela para o processo seguinte, você tem a opção de "puxar" o "mirepoix" (ou parte dele) no fundo dessa panela para coletar sua essência que ficou ali grudada.

Coloque na panela, ou noutra, a água fria,  os ossos, os vegetais e esquente até ferver, abaixe o fogo e adicione as carnes já refogadas.

Acrescente o "bouquet" garni (bem amarrado) e/ou o sachê de especiarias e cozinhe em fogo brando sem fervura pelo tempo indicado. Os temperos também podem ser colocados soltos na panela.


Se for fazer um Fundo, não coloque sal. e reduza a mais ou menos 4 litros. Vá limpando a superfície de hora em hora (ou até menos) com uma escumadeira. A cada limpeza, acrescente meia xícara de água quente. Coe e guarde para uso posterior. Pode congelar em recipientes menores para não precisar descongelar uma quantidade grande quando for usar somente uma pequena parte.



Se quiser um fundo mais clarinho e limpo, controle muito bem a temperatura para não ferver. Se, ao contrário, preferir um caldo mais rústico, deixe ferver ligeiramente para que os vegetais se dissolvam um pouco.


É sempre bom lembrar que um Fundo pode ser usado para fazer um Caldo, ou sopa. O inverso é meio complicado. hahaha.

* Cebolas, Cenouras e Salsão cortados para refogar.
** bouquet com talos de salsinha, tomilho e louro.



27 de nov. de 2012

Relish de Pepino


Numa de minhas viagens, não lembro quando, aprendi , como os americanos (É, eu gosto dos USA!), a acrescentar


Relish de Pepino

ao cachorro quente. Fica ótimo.

Sou daqueles que a cada mordida coloca um, dois, três... condimentos diferentes para que não fiquem sempre iguais. Uma com mostarda, outra com relish e mostarda, a terceira só com relish, depois só ketchup... Assim vou variando, bocada a bocada, para não cair na mesmice...



700g de pepino com casca picadinho
1/2 xícara pimentão vermelho picadinho (opcional)
1 xícara de cebola picada
sal a gosto
água, o que for necessário
vinagre a gosto
1 xícara(s) (chá) de açúcar
grãos de mostarda a gosto
mostarda a gosto
pimenta calabresa a gosto (opcional)

A idéia é ter, depois do cozimento, um vinagrete agridoce bem espesso.

Misturar os vegetais, o sal, um pouco de água e descanse por 2 horas. Escorrer. Colocar numa panela, o vinagre, o açúcar, os grãos de mostarda e a pimenta vermelha picados. Ferver até formar uma calda rala. Adicione os vegetais guardados e ferva entre ponto de fio e ponto de geléia. Mais para geléia que para calda de doce. Eu prefiro fazer menos quantidade para não ter que me preocupar em ficar selando potes e coisa do gênero.

Costumo fazer de orelhada numa panelinha pequena. A receita é só para dar uma idéia.


26 de nov. de 2012

Os 12 Macacos


Esse foi um daqueles filmes intrigantes e provocantes que tive que cuidar para não “dar um nó na minha cabeça”.

A excelente produção com elenco estupendo foi indicada ao Oscar, injustamente apenas, entre outras tantas indicações e prêmios, nas categorias: Melhor Ator Coadjuvante (Brad Pitt, magnífico) e Figurino (Julie Weiss).

Os 12 Macacos (1995)

Twelve Monkeys (título original)





Num futuro devastado pela doença, um presidiário, James Cole (Bruce Willis) aceita a incumbência de voltar ao passado e decodificar os acontecimentos envolvendo um agente biológico artificial que exterminou a maior parte da humanidade.



Tido como demente, encontra em sua psiquiatra, Kathryn Railly (Madeleine Stowe), a única saída para, na trajetória turbulenta e insana de suas viagens pela linha do tempo, impedir que o desastre ecológico se repita e ameace (de novo?) o destino da humanidade.



Diretor: Terry Gilliam
Roteiro: Chris Marker (filme La Jetée), David Webb Peoples (roteiro).
Elenco: Bruce Willis, Madeleine Stowe, Christopher Plummer e Brad Pitt.

25 de nov. de 2012

Morreu o Major Nelson

Morreu o Major Nelson

Faleceu, aos 81 anos de idade, nesta sexta-feira um dos grandes nomes da televisão americana, o ator Larry Hagman, conhecido no mundo todo pela série Dallas do final dos anos 70 e agora em nova versão.

Hagman teve vasta carreira no cinema e na TV, mas, para mim, será sempre lembrado por seu espetacular trabalho na série "Jeannie é um Gênio", na qual encabeçava um triângulo cômico com os personagens de Barbara Eden (Jeannie) e Bill Daily (Major Healey).

O seriado, escrito por Sidney Sheldon, em minha modesta opinião, é, ao lado de,  "A Feiticeira", "Jornada nas Estrelas", "Agente 86" e "Além da Imaginação", entre outros, um dos marcos criativos da TV dos anos 60.

Não faz muitos anos tive a feliz oportunidade de rever episódios de "Jeannie é um Gênio" e fiquei surpreso com um texto e ritmo que, diferente de outras comédias da época,  não perderam sua capacidade de ainda fazer rir. Larry Hagman foi um mestre naquele seriado.

Rodeado por um bando de canastrões careteiros, esse americano de Forth Worth, Texas, incorporou de forma brilhante e quase sempre minimalista, seu mais icônico personagem, o também texano, JR, um cínico e sarcástico milionário do petróleo. Sem ele, Dallas, um seriado de qualidades, no mínimo, discutíveis, jamais teria feito o sucesso que fez.

Em mim deixa uma pontinha de saudade.

Primeiro capitulo de Jeannie é um Gênio. Parece que toda a série dublada está no YOUTUBE

Alguns momentos de JR em inglês




5 Essências Fundamentais da Culinária


As cozinhas francesa, espanhola e italiana deram à gastronomia internacional do Ocidente. 

5 Essências Fundamentais da Culinária

 Elas são usadas como base para a grande maioria dos molhos que conhecemos. Mesmo quando seu preparo não é fundamental para alguma receita, podemos perceber que ainda assim, essa leva princípios da confecção das mesmas.

O ideal seria que, tendo espaço, as essências, fossem feitas e, já que tem índice de conservação bastante alto, guardadas na geladeira para uso mediante a necessidade. Nos dias de hoje numa casa normal, isso é praticamente impossível. No entanto, manter uma, ou até mesmo duas delas, pode ser tarefa menos hercúlea. 

Há também receitas alternativas e mais simples que podem ser feitas logo antes da realização do prato.

Os caldos podem até ser congelados. Para tal, divida em vasilhas de plástico (as de vidro estouram com a expansão da água abaixo de grau zero) para descongelar (em banho maria) somente o que for usar.

Seus nomes:

Caldo Claro: Cozido à base de carnes de aves, carne de boi magra e base de "mirepoir" mais temperos.

Caldo Escuro: à Base de Ossos: Caldo de ossos, carnes bovinas e base de “mirepoire” tostados e cozidos à exaustão com bouquet garni mais temperos.

Essência de Carne: Concentrado feito com as gorduras e carnes retiradas do Caldo Escuro. Podem-se usar as do Caldo Claro também.

Fumê de Peixe: Caldo à base de espinha de peixe, cebolas, vinho branco, bouquet de salsa e pimenta do reino.

Vino Cotto: Caldo concentrado de umas escuras.

Estou pesquisando suas receitas e, em breve, postarei uma a uma.

23 de nov. de 2012

Linha do Tempo em Filmes

Muita gente tem dificuldade com História. Não consegue estabelecer uma linha do tempo em sua cabeça. Os professores também não sabem ou não fazem questão de ensinar ou esclarecer.

Sem poder dizer se a Revolução Francesa foi antes ou depois da Idade Média, ou se A Proclamação da República  aconteceu depois ou antes do Ciclo da Cana, o sujeito está perdido e desnorteado. Fica difícil estabelecer relações de causa e efeito. Ou seria de efeito e causa? Muitas vezes nem esse conceito é esclarecido.

Linha do Tempo em Filmes


Uma das formas de montar uma noção mais ou menos clara da linha do tempo histórica é assistindo filme com alguma orientação.

É preciso lembrar que muios filmes não tem grandes compromissos históricos, mas podem ajudar a montar o quebra-cabeças cronológico dos eventos que sucederam durante o passar dos séculos.

Nessa Parte 1 coloquei As primeiras Idades Históricas de alterando um pouco o se encontra nos livros didáticos mais comuns. Dividi a Idade Antiga em duas partes que na linha do tempo, inclusive , em parte, se, sobrepõe. Portanto essa divisão foi feita somente por conveniência. Acho que facilita um pouco para entender, pois os eventos mais importante sobre Roma aconteceram quando as outras civilizações da Antigüidade já estavam em declínio.

Sugiro que assista todos, ou ao menos dois filmes de cada período na seqüência e tente achar alguma informação que ajude a fixar o assunto em sua memória. Os destaques são minhas sugestões para o caso de, na preguiça, decidir assistir a apenas um filme de cada fase.

período filmes
1

Pré-história

corresponde ao período da história que antecede a invenção da escrita, quando começaram os registros históricos, aproximadamente em 4000 a 3500 a.C.
- 7 filmes (1988 a 2007) - Período Jurássico antes do homem.
(2002)
(1981)
(1986)
2

Antigüidade
Sem Roma - Em tese, segundo a maioria dos livros, seria, incluindo Roma, o período entre o início da escrita e a queda do Império Romano
(1998) - Egito/Povo Judeu/Bíblico
(1985) - Jerusalém 1010-970 A.C.
(2004) - Grécia/ Mitologia / Aquiles/ Ulisses/ Heitor
(2010) / Grécia/ Mitologia/ Perseu
(2006) - Grécia 490 A.C
(2004) / Grécia 356-323 A.C.
3

Antigüidade

Roma

Embora faça parte da estruturação didática que a coloca como parte da Idade Antiga, prefiro separar devido à sua extrema importância e influência. - séc X a.C. a 476 d.C.
(2002) - Egito/ Roma
(2001)/ Roma e Gália
(2005-07) - séries de TV
(2002) / Roma - TV
(2004)/ Jerusalém - qualquer bom filme sobre Jesus serve.
(2000) / Roma
(2001) / confronto entre Átila e o gen. romano Flavius
(2007) / Roma, 476 D.C
(2004) - Virada para a Idade Média

Na próxima semana continuo completando e republicando o post com mais alguns períodos subsequentes.






22 de nov. de 2012

Para Conhecer o Hambúrguer

Qualquer pessoa que gosta de hambúrguer precisa sair do eixo dos fast food e experimentar lugares mais sofisticados. Eu gosto de fast food, mas acho que nossa vida não pode se limitar a eles. Aqueles que pretendem montar suas lanchonetes também precisam de parâmetros para se nortear. Eis uma lista de alguns restaurantes especializados no assunto. 

Para conhecer o Hamburguer



Caso queira saber como montar um Cheese Salada, consulte o post.

Serviço:

Lanchonete da Cidade
Alameda Tietê 110, Jardim Paulista, São Paulo
Tel.: (11) 3086-3399 

P.J. Clarke´s
Rua Dr. Mario Ferraz 568, São Paulo
Tel.: (11) 3078-2965

The Fifities Tradicional Burguer
Rua Tabapuã 1.100, Itaim Bibi, São Paulo
Tel.: (11) 5181-1009

General Prime Burguer
Rua Joaquim Floriano 541, São Paulo
Tel.: (11) 3168-0833

Hamburgueria Nacional
Rua Leopoldo Couto de Magalhães Jr. 822, Itaim Bibi, São Paulo
Tel.: (11) 3073-0428 

A Chapa
Alameda Santos 24, Paraíso, São Paulo
Tel.: (11) 3289-0011 

St. Louis
Rua Batataes 242, Jardim Paulista, São Paulo
Tel: (11) 3051-3435  

Joe & Leo´s
Rio Plaza Shopping - Rua General Severiano 97, Botafogo, Rio de Janeiro
Tel.: (21) 2295-2706

America
Rio Plaza Shopping - Rua General Severiano 97, Botafogo, Rio de Janeiro
Tel.: (21) 3666-1166

Existem outros locais mais antigos e tradicionais da cidade que começaram como lanchonetes  e com o tempo foram se sofisticando. Num outro post falarei sobre eles.

Caso você tenha alguma indicação que considere importante ser acrescentada à lista, por favor não exite em mandar seu comentário. Obrigado.

21 de nov. de 2012

A Prancha - Parte 2 - Serra Abaixo - Imigrantes

A Prancha - Parte 2

Serra Abaixo - Imigrantes


As  sibilantes rodas da Veraneio sobre o cintilante asfalto da estrutura beligerante de concreto entoavam um assobio silencioso que embalava meus pensamentos. Toda vez que descia a Serra do Mar eu sentia aquela nostalgia invertida. Uma saudade do que ainda estava para acontecer. Aquela sensação de paz antecipada pelo elo que me unia ao mar. Ficava sonhador. O surfe dava asas à minha imaginação.

Não sei como Ema conseguia desenhar qualquer coisa sobre aquele bloco apoiado em suas pernas fortes e roliças. Naquele tempo ela era um prenúncio do padrão feminino e atlético que só apareceria muitos anos depois. Acho que o judô lhes dava firmeza sobre pés que estavam sempre bem plantados no chão.

Ela sabia o que queria, apesar de emotiva e, às vezes, aparentemente, descontrolada, em paradoxo, tinha suas próprias ideias, muito claras, equilibradas sobre anos da sabedoria budista de seu pai. Sua mãe era luterana. Sob esse binômio de povos e religiões tão distantes cresceram esses gêmeos cheios de contrastes homogêneos.

Sua coxa encostava-se à minha. Emanava um calor flamejante que me subia pelas veias em direção ao coração e ao pescoço. Eu sufocava. Morria de medo que alguém percebesse... principalmente ela. Se notasse poderia querer tirar. Precisava conter meus ímpetos de virilidade. Isso eu não queria. Não ali, daquele jeito... naquele momento... eu nem sabia... nem quando... nem como... Poderia estragar a amizade. Com isso eu morreria.

Meu desvario onírico sexual foi interrompido por mais uma das investidas "sarristas" auto impositivas de Preto.

Preto
Ô, kamikaze burro! Não é assim, anta. O nó é assim que faz. Senão solta.

Shitake
Não acredito que você tá querendo me dar aula de novo! Ô Saci Perneta, esse é o nó de marinheiro. Não é de escoteiro, bicha!

Preto sempre foi assim. Era inseguro e tinha autoestima baixa. Usava a chacota e a crítica para se auto afirmar sobre aqueles que o rodeavam. Uma atitude incongruente com seu espírito agregador. Era realmente um sujeito ligeiro, à sua maneira, apaixonante, envolvente e cheio de conflitos contraditórios.

O Shitake não deixava barato.

Eu  continuava ali, preocupado com a situação em que vivíamos. Incapazes de expressar nossos sentimentos, conseguíamos apenas nos manifestar pelas ações físicas mais básicas e óbvias .

"Ai, cansei, viu? Esse carro balança muito!", comentou Ema colocando o bloco de desenho entre nós dois. Olhou em meus olhos e sorriu aquele sorriso envolvente e doce que me deixava tonto...

Preto
Vamos pegar onda na Praia do Tombo?

Raiz
Ahn? Ah, tá! Não, quer dizer, acho meio perigoso pra vocês. Se o mar estiver liso, boa. Mas, se tiver meio quebrado, não vai ser fácil.

Preto
Quê? Sou fera! O Shitake Burro pode até se embananar, mas eu dou conta. Vamos pro Tombo! O dia tá bonito.

Ema
Ai, que saco! Quer parar de encher o meu irmão, Preto!

Preto
Ih, que chata, meu! Ele é meu amigo! É brincadeira.

Shitake
Eu não ligo pra esse perdigoto seco, Ema. Hahaha

Preto
Perdigoto seco é sua tia da Bélgica, Kuai Chang Caine tupiniquim.

Shitake
Ih, Macunaíma retardado!

Ema
Não interessa. Não gosto! Você é meu irmão! 

Ema era ciumenta e não gostava que mexessem com o Shitake. Podia ser amigo, o que fosse. Se não fosse amigo, então, estava arriscado de levar uns cascudos da judoca. O Shitake levava tudo na brincadeira.

Preto (aumentando o rádio)
Tá bom, Srta. Ranzinza! Seu Side, toca pro Tombo! De lá a gente liga pro Jeff Mentor e avisa que vamos pegar umas ondas antes. Ainda é cedo.

Preto sem mais nem menos, do nada, subvertia a ordem das coisas e decidia sem raciocinar. Ia fazendo o que dava na telha sem se abalar com as consequências e arrastava todo mundo junto. Adorava se sentir importante dando ordens pro Seu Sid.

Continuamos ali, descendo a Serra do mar sobre a Rodovia dos Imigrantes. Morais Moreira embalando o ritmo da viagem. Eu na expectativa de que Ema voltasse a desenhar e que sua coxa voluptuosa e quente fervilhasse de novo minha alma.


20 de nov. de 2012

Carbonade Flamande

Durante minhas pesquisas sobre gastronomia esbarrei nesses videos to YOUTUBE.

Carbonade Flamande

Em síntese, esse prato do norte da França e Bélgica, que tem influência da culinária holandesa, é um picadinho agridoce de carne (acém) de panela feito com cerveja clara belga (ou qualquer outra), cebolas, alho, farinha de trigo, óleo, manteiga, vinagre de vinho, açúcar mascavo, cravo a gosto, canela a gosto, tomilho (fresco), folhas de louro, talos de salsa (a gosto).
ingredientes da receita de Olivier Anquier no site do GNT

Olivier Anquier cozinha o prato em duas fases, uma, selar a carne, caramelizar as cebolas e adicionar todos os outros ingrediente, a preparação, no fogão e, outra, o cozimento, no forno.

Curioso é constatar que, sem conhecer o prato, e sem querer, meio na louca, já havia feito carnes de panela semelhantes usando cerveja como base do molho. Aposto que você também. Se ainda não experimentou, está na hora de começar a ousar e inventar mais.



Se quiser, use qualquer outro tipo de cerveja.


Certamente é uma receita que permite variações interessantes. Não esqueça de mudar o nome se for lançar mão de sua criatividade.








19 de nov. de 2012

Pinóquio - Um Pedido a Uma Estrela


Sempre fui fascinado por essa fábula que tem um estranho paralelo com romance de Mary Shelley, “Frankenstein”. 
Assisti a esse segundo longa metragem de Disney quando tinha uns oito anos de idade. Até hoje, passados mais de 40, ainda me emociono.

Pinóquio (1940)

Pinocchio (título original)

A história do Pinóquio começa com o velho e solitário inventor, Gepeto, criando uma marionete de madeira. Ele gostaria que fantoche fosse um filho de verdade e faz um pedido a maior estrela do céu para que seu desejo se realize. 


When You Wish Upon a Star com letra

A Fada Azul traz o boneco à vida e escala, Grilo Falante, um inseto-vagabundo que ali havia se abrigado do tempo, como "consciência" de Pinóquio a fim de mantê-lo longe de problemas. 

Grilo falante é um dos maiores representantes do clássico arquétipo do Mentor, ou Guardião

A tarefa de Pinóquio, se quiser ser humano, é provar seu valor.

Após sucessivas desventuras, Pinóquio é levado a seu mais importante teste para se transformar num menino de carne e osso... E provar que, 

Quando se faz um pedido a uma estrela, seus sonhos se realizam.

Direção: Norman Ferguson
Roteiro: Carlo Collodi (romance); (adaptação) Ted Sears , Ted Sears, Otto Englander, Webb Smith, William Cottrell, Joseph Sabo, Erdman Penner, Aurelius Battaglia, Bill Peet
Estrelas: Dickie Jones, Christian Rub e Mel Blanc

 Música de abertura na voz de Orlando Silva (não o ex-ministro, hahaha)


filme completo e dublado




17 de nov. de 2012

Paprika Schnitzel


Havia no Bridge Club de São Paulo, lá para o final da década de 80, um grupo de amigos que gostava de comida alemã. Éramos frequentadores de dois restaurantes:

O Bismark na Avenida Ibirapuera

e

O Schnapshaus na Rua Diogo Moreira.

A Múmia e o Fred (e eu ia atrás) pediam sempre um

Paprika Schnitzel


Típico prato da cozinha alemã com raízes no Império Austro-Húngaro.

“Schnitzel” é um escalope que pode ser ou não empanado.

A Páprica é o tempero base do molho que banha os escalopes.

É inspirado no

“Wiener Schnitzel”, o escalope empanado.


A receita original é feita com filé mignon de porco empanado, mas a opção com carne de boi também é muito boa.

O acompanhamento clássico é uma massa meio nhoque, meio macarrão chamada Spätzle (existe pronto da Arosa), mas também combina muito bem com batatas douradas e arroz (opcional).

Para quem não sabe, a páprica é uma especiaria feita com pimentões vermelhos secos e moídos. Pode ser doce ou picante e o prato normalmente é feito com a versão picante em abundância.

A Receita principal, tem duas etapas:

O Molho

Com base do “espagnole”,



que é feito com caldo de carne e "mirepoix" engrossado com um “roux” claro ou escuro.

Adicionam-se páprica picante e/ou doce, a gosto, ao espagnole e depois creme de leite, fresco, de preferência. Fica com cara de molho de estrogonofe vermelho-alaranjado.



Os escalopes,

filés bem finos que podem ser à milanesa, colocados  numa travesssa e cobertos com o molho em abundância.





para o acompanhamento, A Massa









16 de nov. de 2012

Rebecca, A Mulher Inesquecível


Este figura na minha lista dos 10 melhores filmes a que assisti. É um tenso suspense psicológico repleto de mistério e manipulação psicológica. Um dos melhores de Hitchcock.

Na virada dos anos 30 para os anos 40, David O Selznik produziu duas grandes obras primas.

Conhecido como produtor obsessivo e controlador, enquanto cuidava de seu mais importante filme, "...E o Vento Levou". Abriu algum espaço criativo para que Alfred Hitchcock dirigisse sua primeira produção americana com a qual ganhou seu único Oscar de melhor filme,

Rebecca, uma Mulher Inesquecível (1940)

Rebecca (título original)




Mais de 20 atrizes foram testadas para o papel de Sra. de Winter, que foi eventualmente entregue à estreante Joan Fontaine. Uma das concorrentes foi Vivien Leigh, namorada de Laurence na época e que curiosamente perdeu o papel, mas ganhou o Oscar de melhor atriz por "...E o Vento Levou".



Por querer sua namorada no papel principal de Rebecca, Laurence Olivier tratou Joan Fontaine de forma detestável durante a produção e filmagens. Isso intimidou a atriz e Alfred Hitchcock decidiu aproveitar-se do fato dizendo a ela que todos no set a detestavam. Com isso, conseguiu da atriz uma postura tímida e retraída, exatamente o que esperava de sua atuação.



130 min - Drama - Mistério - Suspense - Romance

Quando uma ingênua jovem se casa com um rico viúvo e se instala em sua gigantesca mansão, descobre que a memória da falecida primeira esposa mantém um estranho domínio  sobre todos naquele lugar.



Diretor: Alfred Hitchcock
Roteiro: Daphne Du Maurier (romance), Robert E. Sherwood (roteiro)
Elenco: Laurence Olivier, Joan Fontaine e George Sanders

15 de nov. de 2012

A Boulangerie da Market St

Morávamos em São Francisco. O Bruno, meu filho, tinha pouco mais de um ano. Perto de nosso apartamento havia esse pequeno parque de onde se avistava uma bela porção da parte baixa da cidade. Encontrávamos todo tipo de figura simpática e esquisita naquele lugar. Meu filho adorava  brincar lá.

66 Cleary Court

Lafayette Park

Morar fora é gostoso pelas descobertas. A cada dia, acham-se lugares novos e aconchegantes.

Um de nossos tesouros apareceu num dos caminhos até aquele parque. Era uma "boulangerie" na Market Street. O café vendia pães diversos e "croissants". Também servia sanduíches, sucos, "smoothies" e bebidas quentes.

Uma das delícias que experimentei lá foi um sanduba de salmão. Não tinha nome portanto vou criar um agora.

Market Street

(que original, não!)

ingredientes:
  • 1 croissant grande (o verdadeiro, por favor! Nada dessas porcarias que as padarias medíocres insistem em empurrar para a gente como se fosse o autêntico)
  • Salmão Defumado em fatias (com fartura)
  • Cream Cheese a gosto (eu ponho muito, umas duas colheres (sopa) cheias)
  • Alface (lavado e enxugado)
  • Tomate em fatias (lavados e enxutos)
  • Sal, pimenta do reino e páprica doce a gosto.

preparo:
  1. Se o croissant estiver fresquinho não precisa esquentar no forno.
  2. Como sempre, deve-se ter o cuidado de não deixar as verduras molharem o pão.
  3. Passar o cream cheese na metade superior do pão.
  4. Sobre a parte inferior, colocar o alface e os tomates.
  5. Temperos a gosto sobre os tomates.
  6. Por cima, colocar o Salmão
  7. Cobrir, fechando o sanduíche, com a fatia de pão com cream cheese.

Essa era a forma como eles preparavam, mas acho que fica melhor com o cream cheese por baixo das verduras. Desse modo isola-se o pão das mesmas que podem ainda estar meio úmidas. O inconveniente é que o salmão pode estar muito embebido em óleo e ele próprio pode acabar melando o seu pão. 
Bem, deu para entender, não? Muita gente, como eu, inclusive, gosta de pão molhadinho, mas não pode ser em exagero para não "desmilingüir" o sanduíche.

algumas idéias:






O cream cheese com salmão defumado é uma combinação muito apreciada nos USA. Em pratos de saladas ou sanduíches, é muito comum encontrá-la no cardápio de muitos restaurantes e “diners”. Há variações com queijo "cottage" ou ricota (eca!), e até outros queijos mais fortes, que não sinto combinar tanto. As verduras podem ser outras também.


14 de nov. de 2012

A Prancha - Parte 1 - Serra Abaixo


A Prancha

Parte 1 - Serra Abaixo

Vestida com uma saída de banho de crepe meio transparente, translucidava um sexy biquíni verde-limão sobre sua pele bronzeada. Ela era de etnias heterogêneas. Os olhos orientais e a pele amorenada puxara do pai. O cabelo louro meio crespo da mãe esvoaçava ao vento. Ema estava ainda mais linda naquela madrugada.

Preto, meu primo e irmão, ainda estava na cozinha preparando seu café enquanto eu a recebia no portão. Não precisei abrir. Ela conhecia o segredo da cordinha que puxava o trinco. Ema era de casa.

Todos nós, garotos da classe, fomos meio apaixonados por Ema. Ao mesmo tempo, muito inseguros para fazer qualquer investida amorosa. Ela, como qualquer outro garoto da turma, nos tratava de igual para igual e talvez isso fosse o que mais nos encantasse. Ema encarnava “mais um dos moleques” da turma no corpo de uma linda e sensual ninfa.

Seria a primeira viagem sem nossos pais. Éramos todos surfistas muito ativos nas férias e feriados, mas, nos finais de semana corriqueiros, raramente saíamos do marasmo febril da cidade grande para o agito refrescante das ondas.

Pelo rádio, “A Cor do Som” foi interrompida pelo noticiário das condições do mar. As ondas prometiam um passeio eletrizante. A primeira bateria de um torneio de surfe aconteceria na praia de Pitangueiras e a gente queria dar uma bicada por lá.

Preto
Ô Raiz, acho que vai dar tudo certo. Ah? Oi, Ema!. Já liguei pros caras no Guarujá e peguei o endereço da oficina do Jeff Mentor. Ele falou que está esperando a gente lá pelas 10. Desse mês, minha prancha nova não passa. Vou arrasar nas férias.
Raiz sou eu. Não me pergunte de onde minha mãe tirou esse nome. Ela era da geração hippie e prefiro não analisar sob quais circunstâncias essa idéia lampejou em sua mente. Comecei a surfar quando tinha uns 12 anos. Preto, dois anos mais moço, ainda não tinha, naquela época, permissão de sua mãe, minha tia e madrasta.

Ele era um surfista novato com menos experiência e traquejo. Eu fazia Salto Ornamental e tinha muito jeito com a água. Comecei a dominar as ondas muito rápido e levei no rastro um monte de amigos. Éramos todos discípulos do Marcão, um guru caiçara que morava numa casa de taipa na praia da Baleia.

Temos, Preto e eu, uma história diferente e entrelaçada por um esquisito destino.

·         Meu pai, Carlos, se casou pela segunda vez com a mãe de Preto, tia Yara, irmã de criação de minha falecida mãe, Wanda.
·         Minha mãe e meu tio, Luiz, primeiro marido de tia Yara, haviam sofrido um acidente fatal de avião.
·         Minha tia Yara era filha de dona Gerda, uma antiga governanta alemã de vovô Jorge e vovó Vita.
·         O pai, um capoeirista baiano, a abandonara quando “freulein” Gerda ficou grávida.
·         Meus avós pegaram tia Yara, ainda bebê, para criar depois do falecimento da aia.

Nossa relação fraterna sempre foi de amizade explícita, admiração e de competição velada por parte dele. Acho que por não termos a mesma condição e exata origem, sua cabeça deu uma pirada quando meu pai e minha tia resolveram se casar. Teve dificuldade em se adaptar a essa situação diferente. O tio virar padrasto, o primo virar irmão de criação, a mãe virar minha madrasta. Mais velho, mais forte e melhor aluno estudava na mesma sala que ele num colégio experimental com poucas classes do Instituto Nacional de Biologia onde nossos pais eram pesquisadores. Acho que se sentia competitivo. Algo que, sob alguns aspectos, acabou sendo positivo para ele.

Preto precisava comprar aquela prancha. Pensou, imagino, que uma nova prancha bacana o faria se sentir melhor surfista. Sei lá! Tudo é tão confuso nessa fase da vida da gente.

Eu não perdi a oportunidade e, depois de tentar demovê-lo da idéia de consumo, comprei sua prancha velha que seria, em ondas menores e mais gordas, um bom suplemento para a minha.

Para passar a noite, resolvemos pedir emprestada a casa de uma tia avó, uma das últimas na praia de Astúrias. Planejamos viajar para o litoral naquele sábado de Outubro bem depois da semana do saco cheio para não pegar o Guarujá tão lotado. Cedinho encomendaríamos a prancha e depois iríamos surfar o dia todo. No dia seguinte, se preciso, faríamos uma nova visita à loja do Jeff Mentor, o melhor “shaper” do Brasil, um jamaicano de Miami. Depois, mar e viagem de volta para Sampa.

Shitake, apelido de Mário Sérgio Hitake, era irmão gêmeo de Ema. O codinome havia sido dado pelo Marcão que viajara o mundo num navio cargueiro e já conhecia esse e outros cogumelos, digamos, exóticos.

Os gêmeos eram meio-japas. O pai, comerciante de Mogi, era daqueles nisseis de pele escura polinésia herdada de seus ancentrais de Okinawa. A mãe, uma gaúcha de Santa Maria, tinha ascendência alemã.

Tio Takeo só deixava a filha viajar com a gente por que o Shitake estava junto. Os irmãos, além de surfistas, eram faixas pretas de judô como o pai. Tinham casa num sítio lá perto do condomínio da Baleia onde nossas famílias passavam as férias e feriados.

Conhecemos-nos na praia durante as férias do verão de 1973. O tio Takeo, havia comprado uma propriedade perto do pé da serra com a intensão de expandir seus negócios de hortaliças para o litoral que, em sua idéia visionária, tinha grande futuro. Com a amizade, veio o plano, estimulado por meu pai, de transferir a família para Sampa a fim de que os filhos pudessem estudar em melhores escolas.

Shitake chegou com nosso motorista, o Seu Sid, um gorducho bonachão de sorriso dourado. Seu Sid havia sido contratado por vovô Jorge para servir minha avó que ficara muito debilitada com a morte de minha mãe. Também, depois do almoço, nos levava para o colégio, junto com os dois “ninjitas”, para não atrapalhar a intensa rotina de trabalho de nossos pais. Com o tempo ficamos ligados a Seu Sid, um sujeito muito legal e atencioso que fazia tudo para nos ajudar.

O motor emperrou. Seu Sid pelejou, pelejou e nada. Parece que a vela estava suja e não tinha cristo que concertasse. Naquela hora ia ser difícil achar qualquer mecânico aberto. O Preto não se entregou. Entrou nas “Catacumbas de Matusalém”, um quartinho nos fundos do quintal onde meu pai guardava todas as suas tranqueiras que não serviam para mais nada além de tomar espaço. A gente só ouvia os xingamentos e a barulhada das coisas sendo jogadas de um lado para outro.*

De repente, todo empoeirado, Preto saiu de lá com um caixotinho nas mãos.
Preto
Lembrei que o tio tinha aquela “Harley” velha encostada lá dentro. Imaginei que podia ter uma vela sobrando nela. Não tinha, mas olha o que eu achei bem do lado.
Abriu a caixa que tinha um monte de velas novinhas dentro.

Preto sempre foi uma cara de enfiar uma coisa na cabeça e seguir em frente até conseguir. Às vezes como mula, empacava na idéia. Crescemos sob o paradigma científico da análise e busca. Nossos pais nos ensinaram que, com critério, é muito importante correr atrás dos sonhos. Que nada cai do céu. Preto gostava da busca, mas não era muito "chegado na" análise. Muitas vezes se fiava na sorte. Não raro, exagerava no segundo conceito e se prejudicava por falta da flexibilidade de escolha que o primeiro proporciona.

Ele havia economizado meses para poder comprar aquela prancha e não havia argumento contra que o demovesse. Eu tentara em vão. Preto ainda iria crescer bastante. Se encomendasse uma prancha naquele momento, era provável que a perdesse em menos de um ano.

Ele convenceu nossos pais a permitir essa empreitada. Muito cedo já tinha uma lábia incrível. Sabia usar os argumentos certos, nas horas certas, com as pessoas certas.

Colocamos os racks, com as pranchas, e as mochilas na perua Veraneio e zarpamos, Serra do Mar abaixo, rumo ao litoral paulista.



*Não precisa estranhar, caro leitor. Nossos pais não acordam nem com reza brava.