29 de set. de 2012

Bola Quadrada


Não entendo porque as emissoras se dão ao trabalho de escalar seus repórteres de campo para entrevistar os jogadores.

Nada se aproveita de uma entrevista com jogador depois da batalha. A partida já foi dissecada pelos comentaristas e o atleta está exausto, “bafando” e cuspindo no microfone. Quer mais  é tomar seu banho e vazar.

O repórter, colaborativo, tenta tirar leite de pedra numa função ingrata, A Entrevista de Fim de Jogo. Vem com aquela perguntinha retórica dando deixa da resposta para o estulto.

Mas, para o nosso desgosto, e deleite sadomasoquista de alguns, o peladeiro invariavelmente nem percebe e vai logo dando aquelas réplicas, hoje em dia, arduamente ensaiadas e típicas:



O trágico é que o sujeito decora, decora, e decora e na hora... parece macarronada com vatapá! Não consegue encaixar a resposta no contexto da pergunta. Claro! Afinal, como talvez dissesse mestre Didi,

“Decoreba é decoreba. Entrevista é entrevista.”

Como é que o cara poderia fazer a ligação de uma coisa com a outra? A inteligência da maioria das pessoas não dá conta desses luxos intelectuais. Ainda bem que não tem muito jogador por ai servindo de testemunha em CPIs. Já pensou como seriam seus depoimentos brilhantes?

As vezes até nos divertem sem responder o que foi perguntado.

“Fiz que fui mas não fui...mas acabei fondo!!!!!!!

 “Nem que eu tivesse dois pulmões eu alcançava aquela bola.” 

“O time tava a beira do precipício, e a gente tomou a decisão certa, deu um passo a frente.”

“Na Bahia todo mundo é simpático e muito hospitalar.”

Etc, etc, etc, etc....

É claro que, no futebol como na vida, existem exceções que confirmam a regra.

Sócrates, Mário Sérgio, Zico, Júlio Cezar, Zetti, Leonardo, Casagrande e tantos outros

São exemplos de uma lista de jogadores em nossa história que traem a lógica de minha constatação.

Será?

Acho que não.

Se analisar um pouco o cerne da questão, perceberá que, de sua grande maioria, salvo alguns casos de talento nato, o jogador que dá entrevistas boas é aquele que não é tímido, nem tem dificuldades para falar e,

1 – É inteligente
e
2 – Teve carreira escolar, no mínimo, razoável.

Oito combinações interessantes desses aspectos, acabam acontecendo:

O burro e ignorante que não sabe, ou consegue falar.
Não se entende como ele consegue jogar futebol. Muito menos o que o jornalista foi fazer ali com ele. Tem medo de pronunciar as poucas palavras que conhece. Aos grunhidos, vira a cabeça para os lados enquanto tenta se lembrar os ensinamentos do assessor de imprensa.
O idiota que estudou um pouco, mas não consegue falar.
Aplicado, acreditou na assessoria e tenta, tenta, mas não vai. Tem o olhar fixo meio vidrado num horizonte que nem pode ser muito distante. A presença fálica do microfone o incomoda muito.
O palerma que não estudou, mas fala merda pelos cotovelos.
Está cheio de jogador desse tipo por ai. São os patetas extrovertidos. Não entendem nada de nada. Usam lugares comuns decorados e fora do contexto. Muitos viram políticos.
O parvo diplomado e comunicativo.
Não vou espinafrar os esforçados.
Inteligente, não estudou e tem dificuldade para falar.
Jogam que é uma beleza. São capazes de entender uma partida, mas, na hora de falar, ninguém compreende. Muitas vezes, seu medo dos holofotes atrapalha na Seleção.
Inteligente, letrado, mas com dificuldades de comunicação.
Ele sabe tudo do assunto, mas não consegue construir as frases direito. O espectador até percebe onde ele quer chegar e torce solidário. Seu coito é quase sempre interrompido por uma intervenção “jôssoareana”.
Inteligentes, com pouco estudo e alta capacidade de comunicação.
Têm raciocínio rápido e sempre saem com tiradas espirituosas. Jogam pela Seleção. Muitos tentam a carreira de técnico para ganhar o “título” de Professor.
Inteligentes, diplomados e com capacidade de comunicação.
São craques de Seleção. Dão respostas interessantíssimas, mas odeiam fazer isso depois do jogo porque sabem que entrevista nessa hora, no fundo, não presta para nada. E, afinal, ninguém é de ferro. “Sai pra lá, repórter pentelho!”

Será que existe mais alguma? Minha análise combinatória anda fraca. hahaha. Ajuda que eu corrijo.

Alguém já viu uma entrevista “pós-jogo” que tenha trazido algum brilho aos olhos do espectador?

 Algum “insight” que tenha passado despercebido pelos comentaristas profissionais?

 Alguma coisa relevante verbalizada por um desapercebido jogador naqueles minutos finais da transmissão?

Acho que jogador tinha que ser entrevistado depois, com calma, em programas de rádio ou TV, onde devem ir aqueles que sabem, querem e tem o que falar. Para falar de esportes e até outros assuntos. Escolhido com mais calma e critério para a tarefa. Não adianta nada entrevistar jogador que não vai falar. Fica parecendo calouro que não sabe cantar.

E daí, finalmente, chegamos àquela que é a eterna raiz podre que assola, mas não aflige nosso país. A boa e velha Educação passa longe da casa e, pior, das escolas da população. É ali que deveríamos aprender a nos comunicar. Infelizmente isso não ocorre para a grande maioria.

Não poderia ser diferente no universo do futebol.

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