Eu chegava ao Bridge Club lá pelas 4 da tarde. Alguns, às vezes já estavam lá. O Yamaguchi, quase sempre dormia no sofá da televisão depois de ter chegado exausto, mais cedo, vindo do trabalho na feira com os país. Aos poucos, a turma ia aparecendo. Uns vinham do escritório, outros de torneios vespertinos em outros clubes, alguns vinham da faculdade ou até do Clube de Xadrez.
Naqueles anos, muita gente ali se dedicava exclusivamente à atividade bridgistica. Éramos um bando de filósofos do Bridge. Pensadores boêmios muito mais interessados em seus, e outros esporádicos, mistérios do que na coisas práticas da vida.
Um pedia um sanduíche, outro, um suco, algum, uma porção, e a gente passava a tarde ali ao lado da piscina, batendo papo e discutindo mãos de Bridge. A tarde caia, vinha a hora do jantar e depois a gente ia para o salão jogar o torneio daquela noite.
Terminado o jogo, ficávamos até altas horas no chamado “post mortem”, discutindo as mãos que havíamos jogado. O Bridge competição é um jogo comparativo em que todos enfrentam os mesmos grupos de mãos. Alguém ,às vezes, pegava um violão e a gente cantava. Muitas vezes nos divertíamos com jogos de salão. Mas sempre voltávamos à nossa paixão maior.
Quando os garçons do clube já não aguentavam mais a nossa ladainha, muito tempo depois do horário normal de seu fechamento, eles começavam a piscar as luzes na esperança de que nos mancássemos. Eventualmente pescávamos a direta e saíamos na noite à caça de um boteco para continuar com nossas deliberações filosóficas.
Um desses lugares era o “Paulicéia 22”, na Rua Pinheiros. Claro que, de novo, chegávamos lá com fome. Pensar gasta muita energia! Uma das coisas que pedíamos com muita frequência era uma porção que, até conhecer o local, eu jamais havia experimentado.
Filé Aperitivo com Catupiry
que gerou pratos como esse:
Não achei vídeo decente de Filé Aperitivo, mas o princípio é o mesmo
É claro que eu já havia comido Filé Aperitivo, mas,
acompanhado com Catupiry derretido, naqueles anos do meio da década de 80, era uma grande
novidade.
Embora o queijo fosse muito conhecido, sua utilização em várias
receitas como hoje, não era prática usual. Foi depois dos anos 80 que o Catupiry
virou febre gastronômica e ganhou clones; alguns até que bons, outros muito mal ajambrados, e nenhum igual. Sou meio purista; acho que Catupiry tem que ser o original, mas
existem outros que até servem na falta do prototípico.
A receita criou derivativas interessantes utilizando outros
queijos como parmesão, gruyère, gorgonzola, cheddar, camembert, brie e tantos
outros.
Há até uma fórmula de como fazer “catupiry” em casa, mas
essa, embora seja até gostosinha, não tem nada a ver com o nosso mais nobre requeijão.
Hoje, quando peço um Filé Aperitivo com Catupiry, não consigo deixar de lembrar com saudosismo daqueles tempos no "22" quando éramos filósofos.
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