7 de set. de 2012

Dona Iolanda


Foi na década de 60 que comecei a prestar atenção às coisas que colocavam no meu prato. Isso ocorreu, primeiro, dentro de minha própria casa. Morávamos com meus avós, Dona Mina e Dr. José, na Avenida Rebouças e sempre viajávamos para passar temporadas em Garça.

Minha avó fazia seguir, em dias normais, uma regra que à época era bastante comum nas casas paulistanas:

Arroz
Feijão
Carne
alguma batata
alguma verdura quente
alguma salada simples.

Na fazenda, a regra era a mesma e Dona Iolanda a seguia com excelência. Essa senhora, hoje bastante conhecida em Garça, imprimiu em minha memória um padrão altíssimo para alguns pratos para os quais, até hoje, considero difícil achar, concorrentes. Veja só:

Suflê de Queijo

Gratinado com casquinha crocante e recheio cremoso de queijo “puxa”. Há alguns anos, tive o cuidado de pedir a uma de minhas cunhadas com mão ótima para cozinha que fosse pedir a Dona Iolanda que ensinasse a fórmula mágica do suflê. Deu certo; o mapa da mina foi preservado.

Pão de Polvilho – quase pão-de-queijo, mas nem tanto.

A alquimista produzia de tarde, ao menos uma vez por semana, um pão de polvilho que não acho mais. Era recheado de vento com sutil cheiro de queijo e tinha uma casquinha crocante espetacular. Sei que a receita não era exclusiva aqui para os lados de Garça, mas não vejo aparecer na casa de ninguém. Por favor, quem conhecê-la que se manifeste!

Molho para Macarronada 1

Foi nessa época que descobri e aprendi de orelhada um molho de tomate com pedaços pequenos de carne para uma deliciosa macarronada muito caseira e caipira.

Era feito com pedacinhos de coxão-mole refogados com cebola, alho, massa de tomate (!!!), temperos e açúcar. Bem denso, era servido com macarrão não enxagüado e um pouco mais cozido que “al dente”.

Sim, porque essa história de “al dente” só entrou em voga por essas bandas paulistas, quiçá brasileiras, no final dos anos 70. Até então macarronada era com massa um tantinho mole. Só os metidos é que não lembram. Hahahahah 
E não me venham dizer que na comunidade italiana era diferente!  Minha avó era filha de italianos e aprendera a cozinhar com sua mãe. Ela também cozinhava o macarrão assim. Não prefiro, mas, nas rodas que eu andava, era assim que se fazia na época.

Chamava essa senhora de Mãe No. 2 e deixo aqui, para ela, minha mais respeitosa reverência e gratidão pelos anos em que tive oportunidade e privilégio de conviver com sua família.


2 comentários:

  1. Acho que o macarrão, antigamente, era mais mole, porque ainda não existiam as massas feitas com trigo de "grano duro" aqui no Brasil.

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  2. Será? Pode ser, sim. Mas acho que tenho alguma lembrança de esta moda do "al dente" ter começado antes da era Collor, ainda quando as importações de macarrão não haviam começado. Eu, hoje, consigo tirar um "au dente" com macarrão comum.

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